Informação sobre intercambialidade para a vacina Sputink V foi incluída no instrutivo de aplicação de vacinas contra a Covid-19 na noite de quarta-feira (08/12).
Com informações do g1
A Prefeitura de São Paulo incluiu, apenas na noite de quarta-feira (08/12), uma orientação formal para imigrantes que receberam vacinas diferentes das aplicadas no Brasil no instrutivo que direciona as ações dos agentes de saúde para a vacinação contra a Covid-19 no município.
A mudança foi feita após a Frente Nacional pela Saúde e Migrantes enviar um ofício à gestão municipal na segunda-feira (06/12) com relato de que imigrantes e refugiados que receberam a vacina russa Sputinik V não conseguiram completar seus esquemas vacinais em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital.
"As equipes de saúde não receberam orientações sobre como a intercambialidade deve ser feita, já que a vacina de origem russa não recebeu aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser incluída no Programa Nacional de Imunização (PNI)", diz nota da FENAMI.
Muitos países como Angola, Bolívia, Argentina, Gana, Camarões, Paraguai, Venezuela e Paquistão adotaram o imunizante em suas campanhas de vacinação.
O documento enviado à Secretaria Municipal de Saúde destaca que "segundo o Observatório das Migrações em São Paulo, os nacionais destes países totalizam uma população de 134.074 pessoas no município de São Paulo, considerando apenas aquelas regularizadas."
Na terça-feira (7), o G1 questionou a secretaria sobre a falta de informação sobre a intercambialidade de vacinas não aprovadas no Brasil no instrutivo de vacinação municipal.
Instrutivo de vacinação da Prefeitura de São Paulo onde não constava a informação sobre intercambialidade de vacinas não utilizadas no Brasil. — Foto: Reprodução
Em nota, SMS respondeu que a informação constava em documento técnico do governo estadual, mas não esclareceu por que a questão não era informada na sessão sobre intercambialidade do documento municipal.
"A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), informa que todos os profissionais estão orientados quanto à intercambialidade para vacinas não aplicadas no Brasil. A SMS segue a orientação do Governo Estadual, em seu Documento Técnico - Campanha de Vacinação contra a Covid-19 - 26 de novembro de 2021 - 29ª atualização", diz o texto.
Após novo questionamento da reportagem sobre como os agentes de saúde eram orientados, já que a informação não consta no documento oficial de consulta, a SMS enviou nova nota nesta quarta-feira e incluiu a informação no instrutivo oficial.
"Os profissionais responsáveis pela aplicação de vacinas antiCovid-19 no município são orientados por meio dos coordenadores das regiões da capital, que realizam reuniões periodicamente, e contam com o instrutivo estadual e o municipal para consulta", diz o texto.
"A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), informa que pessoas que receberam a primeira dose de uma vacina contra a Covid-19 em outro país poderão ser imunizadas com uma vacina de outro fabricante conforme segue:
Moderna (Plataforma RNA Mensageiro), completar o esquema vacinal com Pfizer, 28 dias após a 1° dose;
Sputnik (Plataforma recombinante – vetor viral), completar com AstraZeneca, 21 dias após a 1° dose,
Sinopharm (Plataforma vírus inativado), completar com Coronavac, 21 dias após a 1° dose.
No local de vacinação, deve ser apresentado o documento de identificação e comprovante (físico ou digital) da vacina recebida anteriormente."
Novo instrutivo da Prefeitura de São Paulo atualizado na noite de quarta-feira (8) incluiu informação sobre intercambialidade de vacinas não aplicadas no Brasil. — Foto: Reprodução
Após a publicação destas informações pelo G1, veículos de imprensa solicitaram nota à FENAMI, que divulgou o seguinte pronunciamento:
"A Frente Nacional pela Saúde de Migrantes reafirma seu compromisso com a promoção da saúde dos migrantes internacionais residentes no Brasil diante de um quadro sistêmico de descaso que atinge em especial os migrantes indocumentados, pobres, negros, indígenas e trabalhadores. A negligência com os imigrantes, o racismo e a xenofobia têm sido a tônica durante a gestão da pandemia por parte do poder público, e temos registrado escassez de materiais de informação sobre a vacinação voltados especificamente à população migrante, índices de vacinação contra a Covid-19 entre migrantes abaixo dos oficialmente divulgados, e falta de coleta e divulgação de dados sobre o impacto da pandemia sobre os migrantes. A inclusão tardia da informação sobre a intercambialidade no caso de imunizantes não aprovados no Brasil pela prefeitura de São Paulo, cidade com o maior número de migrantes internacionais do país, se dá quase um ano após o início da vacinação, e responde mais uma vez à lógica de negligência e apagamento dessas populações que tanto contribuem para o país, relegando-os à doença e à morte. A FENAMI continuará a atuar no sentido de denunciar tal apagamento, e o racismo e a xenofobia que o motivam."
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